História do Sindicato
Breve História do Sindicato dos Mineiros de Criciúma e suas lutas
Os mineiros de Criciúma possuem uma história de lutas por direitos desde o começo do século XX, período inicial da exploração do carvão. A primeira greve que se têm notícia é de 1920, quando os operários da Companhia Brasileira Carbonífera Araranguá (CBCA) paralisaram a produção exigindo o pagamento de salários atrasados.
Através de muita luta que os mineiros conseguiram fundar seu primeiro sindicato, que surgiu como associação em 1944. Desde o início da década de 1940, os trabalhadores já tentavam organizar um sindicato, em reuniões escondidas, pois os donos das mineradoras perseguiam aqueles que lutavam para a criação do órgão de classe.
Como relembra Jorge Feliciano, ex-presidente do sindicato: “nos domingos, eles faziam assembleia lá embaixo da mina. Naquele tempo a coisa era mais solta. E era mais para se esconder da polícia. A polícia perseguia quem estava discutindo política. ” Portanto, devido à perseguição policial, somente após três décadas da abertura da primeira mina de carvão em Criciúma foi criado o sindicato dos mineiros.
Em maio de 1944 surgia a Associação dos mineiros, em uma assembleia presidida pelo Delegado Regional do Trabalho (DRT) em Criciúma. Nesta Assembleia de fundação, falava-se em “benefícios sociais” que poderiam ser conquistados com a Associação, como “assistência médica, odontológica e jurídica, além das instituições hospitalares e da formação de cooperativas de consumo”.
Seu impacto entre a classe trabalhadora foi imediato, tanto que em novembro de 1944, poucos meses após sua fundação, a associação já contava com mais de 1.500 filiados. No ano seguinte, em agosto de 1945, os trabalhadores conseguiram a carta sindical, tornando concreta a existência do Sindicato dos Mineiros de Criciúma.
As décadas de 1940 a 1960 foram de muitas lutas para os mineiros. Houve greves em 1945, 1951, 1952, 1957, 1959, 1960, 1962, 1963 e 1964. Seu resultado, ora conseguiam as reivindicações pleiteadas, ora conseguiam parte delas. Contudo, o saldo do período foi positivo, pois foram através das greves e paralisações que os trabalhadores conseguiram reajustes salariais, melhores condições de trabalho, o pagamento da insalubridade e periculosidade, a redução da jornada de trabalho de 8h para 6h, entre outras tantas vitórias da categoria.
Em 31 de março de 1964, no entanto, houve o golpe militar que pôs fim à democracia no Brasil e interveio nos sindicatos. Os diretores do sindicato dos mineiros de Criciúma foram presos, pois, defendiam a democracia e eram contra a derrubada do presidente eleito. Muitos ficaram presos por algum tempo e depois foram libertos. Porém, ficaram marcados pelo regime militar e pelos mineradores da cidade, que não davam emprego a esses trabalhadores.
Entre abril de 1964 e setembro de 1966 o sindicato dos mineiros ficou sob intervenção do regime militar. Somente em setembro de 1966 houve novas eleições para o sindicato, elegendo-se a chapa encabeçada por Walter Horn (Alemão), representante dos trabalhadores. Os anos 1960 foram duros para os lutadores, pois a alta da inflação corroía o poder de compra do trabalhador e a ditadura proibia as greves, dificultando as conquistas salariais. Em 1971, na terceira eleições do período militar, a chapa dos representantes dos trabalhadores foi impugnada pelo regime, que nomeou uma Junta para assumir a administração do sindicato. A junta nomeada pelos interventores permaneceu por oito anos à frente do sindicato, de 1971 a 1979.
No ano de 1979 iniciam-se as grandes greves do ABC, em São Paulo, quando os metalúrgicos fechavam as fábricas e paralisavam mais de 100 mil trabalhadores. Logo, seus efeitos foram sentidos pelo país inteiro. Naquele ano os mineiros realizaram uma grande greve que saiu vitoriosa na região carbonífera, e no ano seguinte, elegeram uma nova direção para o sindicato.
A década de 1980 marcou no país o período da redemocratização, quando as lutas pelas Diretas-já em 1983 tomaras as ruas pela volta da democracia. No ano de 1986 foi eleita a chapa dos trabalhadores encabeçada por José Paulo Serafim, que obteve expressiva votação. À frente do sindicato, José Paulo Serafim organizou muitas greves, como a de março de 1988, movimento que ficou marcado na história da região carbonífera.
Desde o começo daquele ano, mineiros da Companhia Carbonífera Próspera reivindicavam o aumento de 145% concedido pelo Tribunal Regional do Trabalho à categoria.
No entanto, o acordo não estava sendo cumprido, pois, a empresa queria pagar somente o reajuste referente ao aumento dado pelas empresas estatais. Os operários decidiram então paralisar a produção exigindo o reajuste. Os trabalhadores, mobilizados junto ao sindicato, foram ao centro da cidade protestar pelo aumento que consideravam justo. Do outro lado, a Polícia Militar — armada com cassetetes e bombas de gás lacrimogêneo —, esperava os grevistas.
O desfecho desse evento marcante na história de Criciúma foi a violência: o centro da cidade parecia uma zona de guerra. “Muitos apanharam, outros ali mesmo já foram arrastados e presos, alguns eu vi sendo arrastados pela polícia e jogados no camburão e ser preso… A polícia ficou de um lado, na boca de uma rua, e a minerada no outro…” (Apud Bernardo, 2003) assim narrou um dos mineiros que participou do protesto.
Na década de 1990 a grande luta dos mineiros foi contra a privatização da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), que durou de maio de 90 a dezembro de 91. O presidente da República Fernando Collor encaminhou o projeto de privatização da estatal, que causaria a demissão de 1.900 trabalhadores de forma direta. O objetivo do governo era de liquidar todo o patrimônio da estatal, vende-lo para grupos privados e desregulamentar todo o setor de exploração do carvão.
Em maio de 1990 os operários realizaram uma assembleia no Sindicato dos Mineiros de Criciúma, onde foram tomadas as decisões de ocupação do pátio da CSN e a eleição de um comando de mobilização, incumbido de criar um projeto para administração da estatal por meio da gestão dos próprios trabalhadores. No final desse conflito, a CSN acabou sendo entregue à iniciativa privada, e, posteriormente, desativada no ano de 1996.
Essa é uma pequena parte da história dos mineiros de Criciúma, categoria que sempre lutou pelos seus direitos. Uma história de muito sacrifício, mas também de glórias, daqueles que mantiveram sua dignidade mesmo sendo explorados no subsolo por mais de um século da exploração do carvão.